quarta-feira, abril 01, 2009

Para ti...sem dedicatória mas com dedicação

Meu querido amigo

Agora que me vejo no fim da vida, o que mais lamento é não ter deixado cantar a música que trago dentro de mim.

Eu sei, no fundo do coração, que existia dentro de mim uma canção que deveria ter sido expressa.Existia em mim uma missão criativa que pedia para ser libertada e realizada. O que quero dizer é que todos temos algo de especial que devemos fazer com as nossas vidas. Cada um de nós é uma criatura especial, única, dotada de capacidades miraculosas e de aptidões inevitáveis.

Só hoje, com a luz da passagem desta vida para outra a apagar-se dia após dia, é que compreendi que estamos todos ligados num plano invisível. Uma voz no meu interior segredou-me que quando temos em conta esta verdade estamos a cair na ilusão que impregna o rebanho a que todos nós pertencemos.

Não somos separados.Somos ligados por fios invisiveís.Para lá do riso, descobri, que nos podemos ligar pela partilha do nosso sofrimento. Se todas as pessoas do mundo se reunissem durante meia hora e partilhassem o sofrimento pessoal experimentado ao longo da vida, todos seriamos amigos.Não haveria inimigos nem guerras.

O que mais lamento é não me ter escutado a mim mesmo. Sempre soube que poderia ter feito algo de grandioso.Quando era jovem escrevia muito bem. Cheguei a ganhar alguns prémios de concursos de jornais diários e nos concursos da universidade, mas o meu Pai queria que eu fosse advogado. Dizia que se eu não ouvisse estaria a cometer o maior erro da minha vida, mas a verdade é que o maior erro da minha vida foi não me ter ouvido a mim próprio, não ter sido verdadeiro e não ter seguido a minha vocação. E agora, devo dizer que os médicos me dão apenas algumas semanas de vida.

De repente passaram-se 87 anos; parece que foi ontem o meu casamento com a Helena.
Parece que foi ontem que vi nascer os nossos filhos.Entretanto ele morreu e os filhos seguiram as suas vidas.A nossa vida esvai-se muito mais rapidamente do que se possa imaginar.Os dias passam a semanas, as semanas passam a meses, e os meses a anos. Eu sei que tu que estás a ler isto pensas que és ainda muito jovem, mas tem cuidado.A vida é assim como eu te disse. Vive a vida que é relmente tua.A tua vida é demasiado importante para te dares ao luxo de tomares consciência disso apenas no fim. Eu vivi a vida do meu Pai, mas deveria ter tido a sabedoria de viver a minha própria vida. Passei demasiado tempo a agradar aos outros.
Onde estão agora esses outros ???

Todas as pessoas a quem procurei agradar; os “outros”, já não estão sequer por aqui.
No momento da morte, a única pessoa a que terás que responder e prestar contas é aquela que vês ao espelho pelas manhãs.É com esse que deves ser verdadeiro.

A vida é um teosuro precioso, e o facto de não podermos voltar atrás no tempo é que a torna preciosa e tão sagrada. Por isso meu querido amigo, arrepende-te sempre do que deixares por fazer ou dizer, e não do contrário.O contrário é normal e nomalidade é ( anormalmente ...) tristeza e arrependimento....

Eu cometi o crime da traição a mim mesmo, e é isso que me vai matar e não o cancro que se alastra em mim.
Meu querido, evita a normalidade e vive feliz, e por favor eu sei que estás muito ocupado com coisas muito importantes que um dia quando chegares à minha actual situação irás achar ridículas, mas por favor : Pára para pensar, um minuto que seja, sobre o porquê e o sentido de estares aqui.

Até sempre
Teu eterno amigo
Paulo
( Adaptado de os meus contos em fim de estação/ P.G ( Nomes e personagens fictícios )