sexta-feira, julho 20, 2007

Aos ausentes....

Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar.Houve um pacto impícito que rompeste e e sem te despedires foste-te embora.
Detonaste o pacto. Detonaste a vida geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscenidade sem prazo, sem consulta, sem provocação até o limite das folhas caídas na hora do cair. Antecipaste a hora, o teu ponteiro enlouqueceu, elouquecendo as nossas horas.
O que poderias ter feito mais grave que o acto sem continuação, o acto em si, o acto que não ousamos nem sabemos ousar, porque depois dele não há nada ?
Tenho razão para sentir saudade de ti, da nossa convivência, em falas amigas, simples apertar de mão, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram certeza e segurança.
Sim, tenho saudades. Sim acuso-te, porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque que é que o fizeste , porque simplesmente te foste.

Carlos Drumond de Andrade

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